
A Oficina de Restauração
da ABPF Regional São Paulo iniciou seus trabalhos em 1994. Os carros,
vagões e locomotivas são restaurados tanto quanto em seu
componente estético quanto em suas partes mecânica e estrutural, sempre
adotando-se como
norma a restauração mais apurada e fiel possível, aliada à segurança que o
material rodante oferecerá quando restaurado. Considerando-se que todo o trabalho é
feito por voluntários, pessoas que estão dando o dia para restaurar
um carro, e que vêm quando estão disponíveis, nas folgas de seu trabalho, a
capacidade das oficinas de restauro é de um carro por vez, e em ritmo lento.
Isso é compensado e deve ser levado em conta no aspecto do custo da
restauração, porque de outra forma o custo de cada restauro seria de pelo
menos o dobro. Uma restauração disponibiliza um carro ou locomotiva para
funcionar por seis, sete anos, sem nova parada, apenas com manutenção. E
dependendo da forma de utilização e de abrigo, o material restaurado poderá
se manter por décadas com manutenções e restaurações de relativo baixo
custo. A Oficina de Restauração também proporciona a reciclagem de
madeira refugada cortando-a em pallets para ser usada na locomotiva que
estiver servindo ao passeio de Maria-Fumaça no Memorial do Imigrante, produzindo assim seu
próprio combustível.
A ABPF Regional São Paulo
sempre está em busca de recursos para possibilitar as restaurações, e
empreende campanhas junto à empresas nesse sentido porque as empresas, em
geral, não se sensibilizam com esse pedido de apoio, talvez pelo retorno
lento do investimento, mas, curiosamente, vêem sempre boas possibilidade
de parcerias quando os carros já se encontram restaurados. O mesmo se dá
com a mídia, que usa constantemente nosso material restaurado para
publicidade ou ambientação de novelas e filmes, uma vez que o acervo da ABPF
Regional São Paulo é bastante variado, mas não se prontifica pela sua
restauração.
O material rodante em
restauração ou depositado no Pátio de São Paulo da ABPF
Regional São Paulo goza do benefício de ser acomodado em parte nos
baixos do viaduto Alcântara Machado, o que, ao protegê-lo do sol e
das intempéries, confere-lhe uma sobrevida muito maior na espera do restauro
ou mesmo no estacionamento. A Oficina de Restauração, o acervo em
restauro e o acervo estacionado em breve poderão estar sendo
regularmente percorridos em visitas monitoradas. E, a seu tempo, os
carros, vagões e locomotivas estarão expostos, quer na Oficina de
Restauração e Pátio de São Paulo,
quer no Pátio do Museu Ferroviário, em Paranapiacaba.
O associado da ABPF e o
amante das ferrovias deve considerar também passeios até outras oficinas,
como a da Regional de Campinas, onde se encontra o maior acervo de
material rodante, com mais de 30 carros de passageiros e 22 locomotivas,
bem como a da Regional de Santa Catarina, com 39 carros de
passageiros e 4 locomotivas. Cada Regional tem sua oficina e trabalha com
seus próprios recursos.
Restauram-se na
Oficina de Restauração da ABPF Regional São Paulo, carros,
vagões e locomotivas quer de madeira, quer ferro
ou de aço, movidas a lenha, carvão, óleo diesel
ou elétricas, tanto na parte útil quanto na estrutura e
parte mecânica. O restauro de carros de madeira é muito difícil
- o restauro procura respeitar todas as características do carro,
o tipo de madeira, sua cor, as dimensões das ripas, e isso demanda
muito tempo e torna o trabalho muito caro. A extinção de
espécies, a regulamentação no uso salvaguardando espécies em
extinção, o fim das importações de alguns tipos de madeiras, como
o pinho-de-riga, e as alterações nas dimensões dos perfis, são
os principais fatores de dificuldade. Além do preço da madeira, muito mais caro hoje do que no período da fabricação
desse material rodante. Uma restauração de carros de madeira, dependendo do
estado de entrada, custa hoje de 30 a 50 mil reais por carro. Isso
contando com que os carros venham em boas condições quanto à parte mecânica
(ainda assim é feita uma revisão geral nesse quesito, especialmente quanto
aos freios). Um carro que venha para restauro também com a parte mecânica
muito danificada não encontrará restauração que compense.
Os
carros de aço também são restaurados ao ponto do original.
Normalmente os carros de aço chegam depredados, sendo o seu
interior e os vidros os alvos mais atingidos pelo vandalismo.
A caixa normalmente não se estraga. Os valores de uma restauração de um
carro de aço inox podem girar de 100 a 150 mil reais. Restauram-se
também os vidros pintados, as luminárias e os demais acessórios, cada qual a
seu modo, sempre buscando a perfeição.
A ABPF Regional São Paulo,
em seu Pátio, também abriga materiais e objetos de
grandes dimensões pertencentes às edificações e vias ferroviárias, em
especial da SPR.
As locomotivas
A Locomotiva
Baldwin tipo Sela
Nº 5,
construída nos Estados Unidos em 1922, foi totalmente recuperada pela
Oficina de Restauração da ABPF Regional São Paulo,
com o apoio do Memorial do Imigrante, em 1998, e desde então vem
prestando serviço no passeio de Maria Fumaça aos domingos e feriados.
A Locomotiva
Baldwin tipo
Pacific Nº 353, a
Velha Senhora, americana, é um destaque do Museu. É atualmente a maior locomotiva a
carvão do Brasil, com 140 toneladas de peso sem carga - com água (16 mil
litros no total) e lenha ou carvão aumentaria para prováveis 165 toneladas - capaz de produzir 220 libras por polegada quadrada e 100 km/h
de velocidade de cruzeiro, fazia Rio-São
Paulo, como Expresso Cruzeiro do Sul, em apenas 8h de
viagem, com 4 paradas para abastecimento e troca de maquinistas. Com rodas
enormes, de 1,70 m de diâmetro, é uma locomotiva para velocidade, com um
diferencial em relação às demais locomotivas: um terceiro cilindro entre as
rodas, girando um virabrequim, como uma terceira roda. E todos os seus
comandos são assistidos à vapor, como se fossem comandos hidráulicos, com um
esforço mínimo do maquinista.
Atualmente a 353 produz apenas 150 libras de
pressão por estar apresentando um problema de vazamento em seus tubos.
Quando foi recebida, 16 tubos (de um total de aproximadamente 140) já
estavam tamponados, num processo que retira da função tubos com vazamento,
mas esse procedimento reduz a potência da máquina, de modo que se os atuais
tubos com defeito fossem tamponados também, a redução total da potência
poderia chegar a 20%, o que não é desejado. Por isso todos os tubos serão
substituídos na própria oficina. Para isso se está procurando patrocínio,
porque só de tubos serão gastos 40 mil reais, mas ao mexer-se nos tubos mexe-se
também no cinzeiro, superaquecedor, serpentina, etc., totalizando 80 mil
reais.
A parte mecânica está perfeita, molas, suspensão, freios, tudo ok.
Seria ideal o patrocínio de uma companhia aérea que hoje faça a rota Rio-São
Paulo, uma vez que o glamour dessa viagem de avião já foi da Velha Senhora
um dia...
A Locomotiva Nº 10 SPR, Sharp &
Stewart, de 1867, está restaurada e funcionando perfeitamente.
Esta locomotiva, juntamente com o Carro de Passageiros Nº 1 e o
vagãozinho de carga formam uma composição original, que chegou junta da
Inglaterra. O conjunto serve aos passeios no Memorial do Imigrante e
pode se deslocar para servir a eventos... Provavelmente estarão no
Festival de Inverno de Paranapiacaba, oferecendo um passeio no plano.
Esta locomotiva tracionava exatamente ali, em Paranapiacaba, e é a
terceira locomotiva mais antiga em operação no Brasil. Atualmente em
operação no Trem Histórico Cultural do Museu Ferroviário de Paranapiacaba.
A Locomotiva Berkshire Nº
85, escocesa de 1912, uma
2-8-4T, boa de carga e passageiros, trabalhou até a década
de 40 na linha Santos a Jundiaí. Levava dois tanques laterais, com óleo e
água, daí a sua aparência. Sofre pela retirada de suas braçagens, ocorrido numa
espécie de "assassinato". Em algum momento de sua guarda na Lapa, alguém
deve ter tido a necessidade de deslocá-la, e ela estava parada engatada,
fora de ponto morto. Logo, ao ser rebocada, arrastou rodas. Então, ao invés
de se retirar as braçagens, cortaram-nas com maçarico. Sua recuperação não é
impossível, mas cara (100 mil) e complicada. Está no aguardo de patrocíno
para seu restauro.
A Locomotiva
Elétrica V8 GE Nº 6371, americana, é de 1938 e parou de
funcionar há pouco tempo, esteve em Jundiaí, passou pela Lapa, e está
completa. Precisa de revisão nas partes elétrica e mecânica e pintura
epóxi, que custariam por volta de 150 mil reais. Esta máquina bateu recorde de velocidade em SP, 120km/h, entre
São Paulo e Araraquara.
Locomotiva Elétrica Box, da General
Eletric, americana, pertence à primeira série da eletrificação da
Companhia Paulista no Brasil. Está completa, apenas com os motores
guardados à parte, totalmente pronta e restaurada, bastando para funcionar
apenas que lhe sejam instalados os motores.
A Locomotiva Nº 15, de
1862, a segunda mais antiga do Brasil, encontra-se no Museu
Ferroviário, em Paranapiacaba, em muito boas condições, e estará
em breve sendo restaurada, ou em nossa Oficina de Restauração ou na
oficina de Sorocaba. A título de informação, a locomotiva mais
antiga do Brasil é a Baronesa, de 1852, e encontra-se
no Museu de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.
Os carros de madeira
O Carro de Segunda Classe
Nº 288 foi
reconstruído praticamente inteiro, tendo sido recebido com apenas a parte
mecânica funcionando. O carro 289 ainda está no estado em que chegou. Carros
de 1900, que serviram, depois de passageiros, como os primeiros trens de
subúrbio de São Paulo.Os bancos de madeira do Carro de Segunda Classe, por
exemplo são feitos em pinho-de-riga. E os que estavam danificados ou
queimados foram refeitos em riga novamente, a partir de batentes de portões
fatiados. A parte interna, incluindo as luminárias e vidros, é restaurada
também ao ponto de serem iguais aos originais.
O Carro de Bagagens e
Correio, de 1914,
inglês, chegou com apenas a parte de correio com teto. Da emenda em diante
foi totalmente reconstituído. O Carro de Bagagens e o de Segunda Classe
foram reconstituídos em três meses, na época da inauguração dos passeios de
Locomotiva no Memorial do Imigrante, em maio de 98.
O Carro Inspeção (tipo Buffet) Nº 21 Companhia Pauista - CP, vindo das oficinas de Rio Claro,
usado até 1960, é o carro que está sendo restaurado no momento,
minuciosamente. Todo o seu exterior e interior estão sendo refeitos. O teto
curvo, as almofadas em madeira das paredes internas, os entalhes, os vidros
pintados, a parte elétrica e a parte de cozinha, tudo está sendo restaurado.
O restauro permite às vezes uma descoberta interessante: quando foi removido
o carpete do piso, encontrou-se o oleado original, com motivos geométricos,
que ficou escondido por décadas. Lamentavelmente seu estado pode comprometer
sua permanência, mas os registros foram feitos.
O Carro Inspeção 21
andará junto do Carro 19, Reservado (Carro Reservado ou
Fúnebre, modificado após acidente), de 1920, americano, mas mais luxuoso,
com lindas poltronas reclináveis. O Carro Inspeção conta com uma
geladeira Frigidaire de motor de correia, que foi montada no carro antes
dele ser fechado, ela não passa pelas portas e janelas. Há um fogão
industrial à gás, pia e cuba em aço inox e armários em muito bom estado. Sua
parte mecânica foi revisada e está ótima. Serão colocados nos armários
inferiores externos baterias e tambores de gás.
Carros de Administração
ou Inspeção caracterizam-se por tentar unir um trem todo em um único
carro. Assim, é comum num único carro administração encontrarmos sala e/ou
varanda aberta, quartos (com ou sem suíte), mesas (ou área para comer),
cozinha e/ou copa. Varia de acordo com a ferrovia, principalmente no quesito
"poderio econômico" da mesma. Ferrovias mais abastadas como a Paulista
e a Mogiana costumavam ter Composições de Administração.
Assim, o carro #21 fazia par sempre com um Dormitório de
Administração, como por exemplo o #27, que está em São Paulo
também. Eles não eram os únicos carros com essa configuração da Paulista,
apesar de existirem carros mais simples, que reuniam realmente tudo num
carro só, como o #29 que está na ABPF-Campinas, que possui
sala, quarto, cozinha e banheiro (incluindo chuveiro).
A planta e relação numérica oficiais da Paulista nos indicam
serem esses carros "Carros de Inspecção", portanto não resta dúvida. Além disso, na Fepasa ganhou a numeração para
Carros Administração, primeiro na fase sem letras e depois AM 3601
(Administração Madeira). Colaborou Rodrigo Cunha.
O próximo a ser restaurado
será o carro de Segunda Classe, Birmingham, inglês de 1908, com toda a parte
de suspensão ótima. O sistema de freios foi substituído em 1946, sendo
passado de vácuo para abs.
O Carro Reservado Nº 19 é um Pullman,
construído na Inglaterra em 1928, carro
de cauda, sem tem a passagem para outro carro, com fundo envidraçado, serve
a vários usos, entre eles o de carro fúnebre, e está
sendo restaurado, estando quase pronto por fora.
O Carro de Passageiros Nº 1
da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, de de
1870,
é bem pequenininho,
restaurado, bancos de palhinha, com banheirinho no canto, ... dizem que D
Pedro II teria usado este carro também...
Os carros de aço
Os dois Carros de Aço-Inox
do Expresso Azul, da Extinta FEPASA - Ferrovia Paulista S/A.,
oriundos da Estrada de Ferro Araraquara - EFA, fabricados pela Mafersa em
1962, atualmente estão cedidos/emprestados para a Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos - CPTM, e em operação no Exresso Turístico.
Os dois carros contam com ar condicionado e têm apenas os vidros diferentes
- há vidros
de abrir, mas já vieram assim da FEPASA.
Carro restaurante em
aço-carbono da Cia Paulista, um Pullman, Estava no projeto do Trem do
Imigrante, para Santos, com ar condicionado, O restauro deste carro mais
dois carros de primeira classe está orçado em 400 mil, mobiliados, com duas
adaptações: embarque e 6 lugares para pessoas com dificuldades locomotoras e
o carro chefe teria instalado um gerador, de modo que a composição pudesse
funcionar como atração mesmo em lugares onde não houvesse disponibilidade de
energia.
O material rodante
especial
O Locobreque Nº 04 está
pronto, totalmente restaurado. Funciona a óleo, mas há um porém, sua
combustão exalaria uma fumaça muito poluente para os padrões atuais, então
precisaria ser convertido para queima de lenha, com a modificação do tamanho
da porta da caldeira, bem como seu sistema interno. No mais, braçagens,
pistões, tudo está pronto. Só não tem as pinças de freio de emergência, mas
elas estão disponíveis para instalação. Há mais dois locobreques guardados
no pátio da Mooca, números 03 e 11, aguardando restauro, vindos de São Caetano do Sul.
O Serrabreque, de 1866, sem tração,
apenas com freios, está em excelente estado. Só há dois serrabreques... este,
que estava na Lapa, por isso melhor
conservado, principalmente por estar menos exposto à maresia e umidade em
relação ao outro, que se encontra no Museu Ferroviário, em Paranapiacaba.
O Caboose da
Companhia Paulista, de 1915.
Com rodas raiadas e trucagem diferente, Apenas a ser restaurado na pintura.
Carro Tanque era utilizado
pela própria RRFSA para transporte de óleo fino para queima nas caldeiras de
Paranapiacaba.
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